skip to main |
skip to sidebar
Tem sido trágico observar o noticiário rubro-negro. Observando as conversas sobre o futebol, a impressão é de que até os torcedores rivais estão consternados. Visitando as resenhas esportivas um fato chama a atenção sobre esta confusão: o uso do nome Flamengo.
Como está depreciada a denominação Clube de Regatas do Flamengo. Agremiação poliesportiva brasileira com sede na cidade do Rio de Janeiro, fundada para disputas de remo há 112 anos. Criado no bairro de mesmo nome, mudou-se para o bairro da Gávea na primeira metade do século 20.
Porém foi o futebol, paixão da maioria dos brasileiros interessados por esportes no Brasil, que consagrou este nome além de suas fronteiras. Tornou-se o clube com o maior número de torcedores no país, e construiu uma bela história no esporte e no desenvolver da sociedade ao longo de um século.
Um segundo basta, para aterrar a moral e lançar abaixo a credulidade. No caso do Flamengo, algumas décadas. No início dos anos 90 há já indícios de falta de compromisso com os profissionais que lá estavam para construir e elevar o bom nome da instituição e seguir seu curso de glórias, vitórias e orgulho. A partir de 1995, o mercado nacional do futebol lançou um ataque de ousadia, esse mesmo Flamengo, repatriando o maior jogador do mundo naquele momento. Exatamente como se arrancassem Lionel Messi do Barcelona nos dias de hoje.
Foi o primórdio da balbúrdia. Como pioneiro, o Flamengo paga até hoje por esta tacada de azar. Por 4 anos Romário mandou e desmandou no clube. Na obrigação de montar equipes do nível do craque, instituiu-se o "o que vale é título" à revelia dos orçamentos que suportavam o cofre do clube. Pior: decretou-se o "treinar pra que?". Resultado: poucas conquistas. O craque jogou muito com a camisa do Flamengo, mas o legado deste período perdurou. Brotou a semente do privilégio.
Após esta fase frustrada, iniciou a fase megalomânica. Super craques circulavam em campo com a camisa do Flamengo. Todos sem receber. Implantou-se o "finjo que jogo". Pior: negligenciou-se a principal filosofia institucional, "craque o Flamengo faz em casa". O escândalo chegou ao congresso, pelo choro de quem dizia não ser bandido comum.
Debilitado e escandalizado, desmistificaram o característico anseio de qualquer atleta em vestir o manto, consagrado às custas de muito suor de homens sérios e comprometidos ao longo de 100 anos. Aquele clichê de exaltar o sonho em vestir a camisa do Flamengo. Ao invés disso, os melhores jogadores passaram a desconfiar daquela bandeira. Por mais uma década, construiu-se o descaso com a instituição.
Dirigentes irresponsáveis, atletas mercenários e uma arquibancada elitizada, vieram contribuindo para chegarmos no que hoje temos: um escárnio. Difíceis são as palavras para descrever a situação em que o Clube de Regatas do Flamengo está, quando ele somente é vítima desses mesmos atores citados no início deste parágrafo. E como é triste não identificar nenhum setor preocupado ao menos em separar o Flamengo desses agentes malignos que impetraram uma doença endêmica e sistêmica que dificilmente será revertida.
Principalmente porque aqueles que poderiam começar a tratar o doente com doses homeopáticas de seriedade, honestidade e trabalho, simplesmente não querem. Lavaram suas mãos esquecendo que eles são frutos sadios do que já foi o Flamengo. E agora é o Flamengo que precisa deles. Mas agem tão mal quanto aqueles já conhecidos vilões que ainda lá parasitam.
Pobre Flamengo, digno de pena. Incompreendido. Somente vítima, transformado no seu próprio vilão. Diminuído perante camisas noves, dez e onzes que jamais perderam uma noite de sono pelo sucesso ou fracasso dessa ou de qualquer instituição. Perdem sono pelo dinheiro, isso perdem.
Mas o Fla, o Mengão, o rubro-negro, esse que move e comove multidões, nações inteiras de torcedores, esse não deveria estar recebendo o ônus de tudo o que os homens promovem. Esse nome deveria estar sendo protegido. Preservado, colocado no seu devido lugar: um clube amado por milhões, e vítima, exatamente por ser gigante.
Esse símbolo, seguido e idolatrado por R$ 40 milhões de pessoas, não tem culpa de nada disso do que vemos e ouvimos. Esse escudo de listras horizontais e cores fortes por um século pretendeu e se tornou amado, através de suas próprias conquistas, embalado nas ondas do rádio, que faziam do Maracanã e suas esquadras, um coliseu pra Cesar nenhum botar defeito.
O desprestígio ocasionado pela incompetência e má fé pode ser revertido. Essa é a hora. Nunca na história houve momento tão delicado e propício a mudanças. Sem os traumas decorrentes da mudança de divisão. Que uma era de bonanza tão longa quanto esses 20 anos de tempestade posicionem o Flamengo no seu lugar de direito: um clube de respeito e expressão mundial. E por favor, ninguém mais diga que é a culpa é do Flamengo.